VARIÁVEIS | N | EVOLUÇÃO DOS CASOS NOTIFICADOS ATÉ SE11/2024 | |||||
---|---|---|---|---|---|---|---|
TOTAL1 | 1.Óbito por dengue, N = 1,9292 | 2.Óbito em investigação, N = 2,3092 | 3.Óbito por outras causas, N = 3142 | 4.Cura, N = 2,005,8902 | 9.Sem informação, N = 1,997,9012 | ||
CLASSIFICAÇÃO FINAL | 4,008,343 | ||||||
1.Dengue grave | 0.1% (n=3,832) | 1,122 (58.16%) | 511 (22.13%) | 44 (14.01%) | 1,205 (0.06%) | 950 (0.05%) | |
2.Dengue com sinais de alarme | 1.3% (n=50,183) | 315 (16.33%) | 313 (13.56%) | 54 (17.20%) | 32,962 (1.64%) | 16,539 (0.83%) | |
3.Dengue | 60.0% (n=2,403,048) | 488 (25.30%) | 700 (30.32%) | 199 (63.38%) | 1,961,594 (97.79%) | 440,067 (22.03%) | |
3.Dengue grave | 10.6% (n=423,926) | 2 (0.10%) | 90 (3.90%) | 6 (1.91%) | 4,130 (0.21%) | 419,698 (21.01%) | |
9.Sem informação | 28.1% (n=1,127,354) | 2 (0.10%) | 695 (30.10%) | 11 (3.50%) | 5,999 (0.30%) | 1,120,647 (56.09%) | |
1 % (n=n) | |||||||
2 n (%) |
Contexto
Vários estudos tentam estimar a subnotificação de dengue. A Organização Mundial da Saúde (OMS) sugere que apenas cerca de 1 em cada 4 casos de dengue são clinicamente diagnosticados e notificados. Isso significa que para cada caso confirmado, pode haver até 3 casos não detectados. No entanto, essa proporção pode variar significativamente dependendo do contexto local (Figura 1).
Figura 1. Relação entre casos assintomáticos, sintomáticos e notificados às autoridades de saúde.
A dengue, doença transmitida por mosquitos e que tem assolado o Brasil há décadas, atingiu um novo e preocupante patamar. Ao final da semana epidemiológica 17 de 2024, encerrada em 27 de abril, o país registrou o maior número de casos prováveis de dengue em sua história. Este triste marco, alcançado em apenas três meses e 26 dias, supera todas as epidemias anteriores desde que a dengue se tornou uma doença de notificação compulsória em 1961.
Figura 2. Distribuição temporal de casos prováveis de dengue e crescimento proporcional entre os anos 2000 a 2024. Brasil, atualização até 27 de abril de 2024.
Antes desse marco negativo, os anos de 2015/2016 pareciam imbatíveis, mesmo com a circulação de três virus simultaneamente, pois foi neste ano que foi detectada a primeira epidemia de Zika vírus relacionada à Síndrome da Zika Congênita.
Figura 3. Distribuição dos casos de dengue, Chikungunya e Zika vírus, data de início dos sintomas e mês de nascimento SCZ. Pernambuco, 2015 - 2016
Além da cifra considerável de incidências, contabilizam-se 3.543 mortes associadas à dengue, das quais 1.929 foram confirmadas na evolução e 1.614 estão sob investigação, embora já categorizadas preliminarmente como decorrentes da dengue. A reclassificação oficial destes últimos ainda pende de procedimentos operacionais. Esses indicadores estão em consonância com prognósticos previamente divulgados por mim e por outros especialistas no início do ano corrente, os quais anteviam um número superior a 3.000 confirmações de óbitos por dengue até o término da semana epidemiológica 17 — período que tradicionalmente registra o ápice de ocorrências no âmbito nacional (Figura 4).
Figura 4. Classificação final e evolução de casos prováveis de dengue em 2024, até 27 de abril de 2024.
Análise dos casos confirmados apenas (dengue, dengue com sinais de alarme e dengue grave)
Os casos prováveis são predominantemente do sexo feminino, representando 55% do total de casos. Entre as mulheres, 23.614 estavam em algum período de gestação. Dessas, 8 evoluíram para óbito por dengue, enquanto outras 8 ainda aguardam confirmação nos próximos meses (Figura 5).
Em relação à raça/cor, durante esta epidemia, as pessoas que declararam ser brancas foram as mais afetadas, com 39,6% dos casos. Em seguida, temos as pessoas pardas, com 36,3%, e as pessoas pretas, com 5,4%. A população indígena representa 0,3% (7.533) das pessoas afetadas. Segundo o nível de escolaridade, 27,4% tem nível médio, seguido de nível fundamental com 17,1%. Por outro lado, entre os óbitos há uma inversão com 25,5% de nível fundamental e 17,9% de nível médio. (conforme Figura 5).
Figura 5. Perfil sócio-demográfico dos óbitos prováveis, até a semana epidemiológica 17 (encerrada em 27/04/2024).
VARIÁVEIS | N | EVOLUÇÃO DOS CASOS NOTIFICADOS ATÉ SE11/2024 | |||||
---|---|---|---|---|---|---|---|
TOTAL1 | 1.Óbito por dengue, N = 1,9272 | 2.Óbito em investigação, N = 1,6142 | 3.Óbito por outras causas, N = 3032 | 4.Cura, N = 1,999,8912 | 9.Sem informação, N = 877,2542 | ||
Sexo | 2,880,986 | ||||||
Feminino | 54.8% (n=1,580,078) | 971 (50.39%) | 827 (51.24%) | 134 (44.22%) | 1,094,870 (54.75%) | 483,276 (55.09%) | |
Ignorado | 0.2% (n=4,362) | 0 (0.00%) | 2 (0.12%) | 0 (0.00%) | 2,118 (0.11%) | 2,242 (0.26%) | |
Masculino | 45.0% (n=1,296,546) | 956 (49.61%) | 785 (48.64%) | 169 (55.78%) | 902,901 (45.15%) | 391,735 (44.65%) | |
Não informado | 3 | 0 | 0 | 0 | 2 | 1 | |
Se é gestante | 2,880,309 | ||||||
1o trimestre | 0.2% (n=5,768) | 2 (0.10%) | 0 (0.00%) | 0 (0.00%) | 3,937 (0.20%) | 1,829 (0.21%) | |
2o trimestre | 0.2% (n=6,802) | 1 (0.05%) | 3 (0.19%) | 0 (0.00%) | 4,577 (0.23%) | 2,221 (0.25%) | |
3o trimestre | 0.2% (n=5,887) | 5 (0.26%) | 4 (0.25%) | 0 (0.00%) | 3,936 (0.20%) | 1,942 (0.22%) | |
Idade gestacional ignorada | 0.2% (n=5,157) | 0 (0.00%) | 1 (0.06%) | 0 (0.00%) | 3,594 (0.18%) | 1,562 (0.18%) | |
Ignorado | 8.5% (n=243,558) | 98 (5.09%) | 49 (3.04%) | 5 (1.65%) | 140,758 (7.04%) | 102,648 (11.71%) | |
Não | 36.0% (n=1,036,824) | 678 (35.20%) | 573 (35.55%) | 90 (29.70%) | 750,059 (37.51%) | 285,424 (32.55%) | |
Não se aplica | 54.7% (n=1,576,313) | 1,142 (59.29%) | 982 (60.92%) | 208 (68.65%) | 1,092,684 (54.65%) | 481,297 (54.88%) | |
Não informado | 680 | 1 | 2 | 0 | 346 | 331 | |
Raça/Cor | 2,880,983 | ||||||
Amarela | 1.0% (n=27,815) | 21 (1.09%) | 13 (0.81%) | 5 (1.65%) | 18,526 (0.93%) | 9,250 (1.05%) | |
Branca | 39.6% (n=1,141,222) | 939 (48.73%) | 741 (45.91%) | 167 (55.12%) | 882,975 (44.15%) | 256,400 (29.23%) | |
Ignorado | 17.4% (n=501,257) | 205 (10.64%) | 156 (9.67%) | 28 (9.24%) | 301,838 (15.09%) | 199,030 (22.69%) | |
Indígena | 0.3% (n=7,533) | 9 (0.47%) | 4 (0.25%) | 1 (0.33%) | 5,077 (0.25%) | 2,442 (0.28%) | |
Parda | 36.3% (n=1,047,178) | 661 (34.30%) | 614 (38.04%) | 86 (28.38%) | 687,153 (34.36%) | 358,664 (40.88%) | |
Preta | 5.4% (n=155,978) | 92 (4.77%) | 86 (5.33%) | 16 (5.28%) | 104,318 (5.22%) | 51,466 (5.87%) | |
Não informado | 6 | 0 | 0 | 0 | 4 | 2 | |
CS_ESCOL_N | 2,222,282 | ||||||
1.Analfabeto | 0.5% (n=11,187) | 46 (2.89%) | 42 (3.21%) | 19 (7.36%) | 8,015 (0.51%) | 3,065 (0.47%) | |
2.Fundamental | 17.1% (n=380,170) | 405 (25.47%) | 357 (27.31%) | 66 (25.58%) | 283,246 (18.07%) | 96,096 (14.75%) | |
3.Médio | 27.4% (n=608,696) | 284 (17.86%) | 224 (17.14%) | 38 (14.73%) | 453,546 (28.93%) | 154,604 (23.73%) | |
4.Superior | 6.7% (n=148,977) | 81 (5.09%) | 58 (4.44%) | 11 (4.26%) | 111,155 (7.09%) | 37,672 (5.78%) | |
8.Não se aplica | 8.0% (n=177,226) | 38 (2.39%) | 52 (3.98%) | 7 (2.71%) | 119,837 (7.64%) | 57,292 (8.80%) | |
9.Ignorado | 40.3% (n=896,026) | 736 (46.29%) | 574 (43.92%) | 117 (45.35%) | 591,920 (37.76%) | 302,679 (46.47%) | |
Não informado | 658,707 | 337 | 307 | 45 | 432,172 | 225,846 | |
1 % (n=n) | |||||||
2 n (%) |
Nesta análise do perfil etário dos casos, é evidente que o padrão dos óbitos em investigação assemelha-se aos óbitos por dengue. Essa observação corrobora a afirmação de que quase a totalidade dos 4.238 óbitos foi causada pela dengue ou está relacionada a ela (conforme Figura 6).
Figura 5. Classificação final e evolução de casos prováveis de dengue em 2024, até 27 de abril de 2024.
Considerações do epidemiologista
No ano de 2023, 1.512.277 casos de dengue foram contabilizados, dos quais 57% (860.014 casos) foram registrados até a semana epidemiológica 17. Se utilizarmos esses dados como base para uma projeção e assumirmos que os 4 milhões de casos prováveis de dengue correspondem a aproximadamente 60% a 70% do total anual previsto para 2024, podemos estimar que o total de casos de dengue para o ano de 2024 estará, em um cenário otimista, entre 5,7 milhões e 6,7 milhões de casos de dengue. Este será um ano para ser lembrado para a posteridade e evitar que se repita no futuro.
Durante um estudo molecular de um surto de dengue em Jambi, Sumatra, no início de 2015, amostras negativas para dengue foram avaliadas em busca de evidências de infecção por Chikungunya. Entre 103 amostras negativas para dengue, oito amostras foram confirmadas (7,8%) como positivas para chikungunya tanto pela detecção molecular quanto pelo isolamento do vírus(Sasmono et al. 2017). Deste modo, ainda há questões importantes que estão abertas, como a compreensão da carga de Chikungunya e Zika Vírus em um número tão expressivo de casos de dengue.
“À noite todos os gatos são pardos”